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Como evitar que a IA vire maquiagem digital

A cada semana surgem novas manchetes sobre empresas que “lançaram” ou “integraram” inteligência artificial em seus processos. Mas, quando olhamos mais de perto, muitas dessas iniciativas não passam de maquiagem digital: uma camada superficial de modernidade aplicada sobre estruturas antigas, sem transformar de verdade a forma como a organização pensa e age.

O risco é evidente. A maquiagem pode até brilhar no curto prazo —atrair investidores, impressionar clientes, motivar equipes—, mas logo as rachaduras voltam a aparecer. Porque a IA, quando usada apenas como enfeite, não resolve os problemas de fundo: processos confusos, culturas resistentes, lideranças que evitam decisões difíceis.

Um exemplo marcante vem de uma rede de varejo brasileira. Orgulhosa de seu “projeto de IA”, anunciou com grande alarde um chatbot para atendimento ao cliente. No início, os números eram promissores: mais contatos respondidos, menos fila no call center. Mas em poucos meses, a insatisfação explodiu. Os clientes reclamavam de respostas superficiais, os atendentes humanos se sentiam sobrecarregados com casos complexos e a imagem da marca saiu arranhada. O chatbot não tinha consertado nada. Apenas havia maquiado a lentidão e a falta de integração entre áreas.

Em contraste, uma fintech com quem trabalhamos fez o oposto. Em vez de anunciar de imediato uma “solução de IA”, começou revisando seus fluxos críticos de decisão. Onde a IA poderia realmente acelerar escolhas? Onde poderia ajudar a reduzir riscos? Onde valia a pena entregar mais personalização ao cliente? Só depois de clarear essas perguntas, desenvolveu aplicações específicas: algoritmos que ajudavam analistas a identificar fraudes em tempo real e sistemas que ajustavam ofertas com base no comportamento real dos clientes. Nenhuma grande campanha publicitária, mas resultados sólidos: redução de perdas e aumento de conversão.

Essa diferença revela a essência: a IA não deve ser maquiagem, deve ser cirurgia estratégica. Não tapa buracos, redesenha sistemas.

👉 A pergunta que todo líder deveria se fazer não é “como mostramos que usamos IA?”, mas: “que mudança estrutural queremos provocar usando IA?”

Experiências que movem indicadores, não só emoções

Durante muito tempo, a formação corporativa foi avaliada pelo termômetro da emoção imediata: se as pessoas sorriram, se aplaudiram, se acharam o dia “leve e divertido”. Esses sinais têm valor —ninguém aprende sob estresse constante—, mas escondem um problema: experiências que geram entusiasmo, mas não mudam nada de relevante no negócio.

Na Konectica acreditamos que a medida do sucesso não está apenas no nível de engajamento do momento, mas na capacidade de mover indicadores críticos. Emoção sem impacto é entretenimento. Impacto sem emoção é imposição. O desafio é criar experiências que façam as duas coisas ao mesmo tempo.

Um exemplo recente foi em uma empresa de logística que nos chamou para trabalhar com seus supervisores. O pedido inicial era um “treinamento motivacional” porque os líderes estavam desanimados. Mas quando chegamos, percebemos que a questão não era falta de motivação, mas falta de clareza: ninguém entendia como suas decisões diárias afetavam os custos e a qualidade do serviço.

Desenhamos então uma experiência simples, mas poderosa. Em vez de uma palestra genérica sobre liderança, criamos uma simulação com dados reais da operação. Cada grupo tinha que tomar decisões em tempo limitado, e a cada escolha, o sistema mostrava em tempo real o impacto em indicadores-chave: atraso nas entregas, custo por quilômetro, satisfação do cliente.

O resultado foi duplo. Sim, houve entusiasmo: os supervisores se envolveram, discutiram, riram, competiram. Mas, mais importante, houve aprendizado estratégico: cada um saiu da sala entendendo como suas microdecisões moviam indicadores que antes pareciam distantes. Três meses depois, os números confirmaram: redução de 12% em custos e aumento de 8% na satisfação.

Essa é a diferença entre experiências que encantam e experiências que transformam. A primeira gera lembranças. A segunda gera resultados. E quando as duas se encontram, nasce o tipo de aprendizagem que realmente vale o investimento.

👉 A pergunta não é “as pessoas gostaram?”, mas: “o que mudou no negócio porque vivemos essa experiência?”

Como prototipar serviços em organizações não digitais

Quando falamos em prototipar, pensamos em produtos físicos ou aplicativos digitais. Mas e os serviços? A maioria das organizações não digitais nunca testou seus serviços antes de lançá-los.

Prototipar serviços significa simular a experiência do cliente em pequena escala. Testar fluxos de atendimento, roteiros de call center, jornadas de suporte. É criar ambientes controlados onde se vê o que funciona e o que trava, antes de gastar milhões em rollout.

O erro comum é acreditar que serviço é intangível demais para prototipar. Mas cada interação pode ser encenada, cada processo pode ser simulado, cada jornada pode ser visualizada.

Empresas que prototipam serviços descobrem gargalos invisíveis e criam experiências que encantam desde o início. Empresas que não o fazem aprendem no pior lugar: no cliente real.

Agilidade industrial: mais do que software, dentro da fábrica

Agilidade costuma ser associada ao desenvolvimento de software. Mas os maiores ganhos estão acontecendo em outro lugar: dentro da fábrica.

No chão de produção, ciclos curtos e feedback rápido significam menos desperdício, maior qualidade e resposta ágil às mudanças do mercado. Implementar agilidade industrial não é replicar cerimônias digitais, mas redesenhar processos físicos com lógica de fluxo.

Isso exige métricas reais: tempo de setup, lead time de produção, capacidade de adaptação a demandas variáveis. É a agilidade traduzida em aço, energia e pessoas, não em post-its virtuais.

Empresas que aplicam essa mentalidade descobrem que agilidade não é uma moda do mundo tech. É a diferença entre ser resiliente ou ser engolido pela próxima crise.

Por que a inovação incremental já não basta

Melhorias pequenas são importantes. Ajustar processos, reduzir custos, eliminar desperdícios — tudo isso mantém a empresa competitiva. Mas inovação incremental sozinha já não basta num mercado onde novos entrantes podem redesenhar setores inteiros em poucos meses.

Enquanto uns comemoram reduções marginais de custos, outros criam plataformas que eliminam intermediários inteiros. Enquanto uns ajustam 5% na eficiência, outros oferecem experiências que mudam as expectativas do cliente para sempre.

A questão não é abandonar a inovação incremental, mas entender que ela é insuficiente como estratégia principal. O que move a agulha hoje são saltos de modelo de negócio, de proposta de valor, de ecossistema.

Empresas que confundem “melhorar” com “transformar” já estão ficando para trás.

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